sábado, 18 de agosto de 2012

Sobre o Amor: Onde quer que ele esteja!




Foi com espanto que eu descobri que dia 17 de agosto, foi dia do amor. A comemoração não é comercial: lojas não estavam abarrotadas de pessoas atrás de presentes de última hora. Entretanto, creio há muito o que se refletir sobre a data.

Ainda que pareça estranho a alguém, creio que descobri algo de que poucos se apercebem ao longo de sua passagem pela Terra. Uma espécie de lei fundamental, à qual a humanidade se entrega com um apetite inconcebível. Descobri – ou creio nisso – que a maioria absoluta dos seres humanos perdera completamente a capacidade de amar verdadeiramente, estando presos a uma mesquinhez absurda que, infelizmente, reduz o amor ao mero relacionamento de caráter sexual. Por este motivo, estão se enclausurando num perigoso mundo onde o egoísmo, os anseios materialistas e, principalmente, a ausência de compaixão têm se alastrado com uma rapidez assustadora.

Confesso que tenho muito medo disso. Não obstante, distantes do amor, as pessoas vão, por conseguinte, distanciando-se dos demais valores, justamente porque eles são intrínsecos ao ato de amar. A verdade terrível nos é então revelada: olhamos ao nosso redor e encontramos ódio, desrespeito, solidão, intolerância, amargura, desprezo, humilhação, morte. Isso, meus caros, apenas para começar uma extensa lista de comportamentos destrutivos. Tudo porque não amamos.

O que mais me entristece em tudo isso, sobretudo quando me afasto da minha esfera de convivência e olho o mundo mais amplamente, é perceber que a maioria absoluta dos problemas que temos seria facilmente resolvida com a simples prática do amor. E isso me leva a uma constatação óbvia: o amor está desaparecendo.

Não estranhem esta afirmativa. Apesar de ser considerado imortal, eterno, capaz de vencer as barreiras do tempo do espaço, da vida e da morte, o amor está padecendo de uma doença grave e perdendo seu vigor dia após dia. “Mas como? Eu vejo o amor todos os dias, nas novelas da televisão, nos livros, nas músicas, nos casaizinhos apaixonados nos cinemas, enfim,  eu o vejo a todo o momento. Como pode estar desaparecendo?” É o que você provavelmente deve estar se perguntando ao ler isso.

Suponho, meu caro amigo, que você não conhece o amor que realmente existe. E digo mais: digo que o amor no qual você acredita é, na verdade, pura ilusão. Sim, vivemos constantemente enganados, pensando que amamos, que podemos ver o amor, que podemos registrá-lo nas páginas imortais das letras. Acreditamos, ainda, que os amores literários, os amores das novelas folhetinescas das seis da tarde, os amores das canções românticas, entre outras “produções amorosas”, podem servir de base para a construção de nossos “amorezinhos-perfeitos”, no sentido mais platônico, ingênuo e intelectualoide do termo.  Acabamos, deste modo, por construir outro amor, um amor que, paralelamente ao primeiro, verdadeiro e fundamental,  nada faz além de nos impelir para o abismo do palpável, do visual e, acima de tudo, do volúvel.

É exatamente por este motivo que juramos que vemos o amor todos os dias de nossa vida. Esquecemo-nos, todavia, que o verdadeiro, eterno e sincero amor, aquele todo em letras maiúsculas, não é visível, tampouco palpável. E acabamos cometendo um erro incomensurável, saindo por aí dizendo “eu te amo” para todas as pessoas da face da Terra. E na verdade não amamos.

Um pouco de atenção logo nos faz perceber que amar não depende de ver, aproximar, presentear, doar… nada disso. Amar significa, prioritariamente, sentir. É dentro de cada um de nós que o amor começa, e é somente depois disso que suas manifestações  têm algum sentido. Antes disso, antes do contato com o nosso interior e com o interior do ser amado, nada é  relevante; nenhuma manifestação, nenhum poema, nenhuma prova, nenhuma música, nenhum gesto, nada, nada, nada faz sentido. Conscientizemo-nos de que é necessário aproximar-se da força do amor, seu poder modificador e sua beleza, coisas que são invisíveis, que só podem ser apreciadas através do coração, da alma.

Banalizamos o amor. Nós o transformamos num objeto de consumo, num falso sentimento que prioriza a satisfação de nossos desejos, e não os desejos do outro. Por este motivo, nos tornamos cada vez menos humanos, cada vez mais preocupados com o nosso egocentrismo infantil e cada vez mais distantes da felicidade no seu sentido pleno. Agimos como sanguessugas, uma vez que nos basta absorver o que há de bom nas pessoas que nos rodeiam para nos sentirmos bem; todavia, precisaremos sugar de novo, de novo e de novo e, sem que percebamos, acabaremos matando a fonte de prazer que nos servia… e procuraremos outra, e outra, e outra, e infinitas outras fontes, até que um dia se esvaia finalmente nosso desejo – quando estivermos mortos. Deixaremos, porém, imenso rastro de cadáveres vivos ­– que morreram graças à ânsia egoísta e canibal que chamávamos de amor. Numa coisa, porém, diferimos das sanguessugas: estas, antes de sugar sua vítima, secretam uma substância anestésica que faz com que a dor desapareça. Nós, pelo contrário causamos a dor impiedosamente, e nem sequer nos importamos com nossa vítima; não nos preocupamos com a sua dor – apenas sugamos. Ainda assim, acreditamos que os momentos felizes que conseguimos neste ciclo de violência podem ser chamados de felicidade.

Continuo com a metáfora do “sugar” afirmando que este falso amor que cultivamos nos aproxima, também, dos vampiros. O vampiro morde porque uma vez foi mordido, e assim recebeu o instinto devorador e foi impulsionado a morder, sugar, servir-se da vida do outro.  Assim nós, uma vez usados, uma vez magoados pelo impulso destruidor do amor vampiresco, somos inevitavelmente levados a fazer o mesmo: sugamos, vampirizamos, usamos. Por que? Ora, a resposta é simples. Usamos uns aos outros porque não estamos preparados para amar. Ou porque simplesmente é mais cômodo barganhar sentimentos descompromissadamente, ou  porque nunca conhecemos o verdadeiro significado do amor. E precisamos amar. Sim, nosso corpo e nosso coração nos pedem, inconscientemente, um pouco daquele amor que é capaz de curar feridas incuráveis, acalentar, amenizar a confusão que é a nossa vida.

Que estas palavras nos sirvam como uma reflexão no dia de hoje. Feliz dia do amor – onde quer que ele esteja.

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