quinta-feira, 18 de novembro de 2010

Como se reunir

A forma como os primeiros cristãos se reuniam definiu a fé cristã: a única religião sem templo, sem clero e sem ritual da história da humanidade! Que glória para o Carpinteiro e sua fé.

Gente rude, pobre e cansada era o clero, a sala de uma casa era o templo, roupas surradas consistiam sua vestimenta e Jesus era o vocabulário.

Note bem: a Igreja de Jesus Cristo nasceu na informalidade e deveria ter continuado assim. Ela precisa ser informal se desejamos que seja cativante e cheia de significado para nós e para os não cristãos que ali chegarem.

Se o propósito de nossas reuniões é comunicar ao mundo o que é ecclesia e o que é a fé cristã devemos, então retornar a informalidade. Nossa fé nasceu assim!

terça-feira, 9 de novembro de 2010

E Então Ele se Apaixonou…


“Vemos, porém, coroado de glória e de honra aquele Jesus que fora feito um pouco menor do que os anjos, por causa da paixão da morte, para que, pela graça de Deus, provasse a morte por todos.” (Hebreus 2:9)
Quando estamos apaixonados, a vida ganha cores mais fortes. Costumamos agir de forma extremada: Nenhum sorriso é largo demais, nenhum pranto é longo demais, nenhum beijo é molhado demais… Tudo é nada!
Por isso, costumamos associar paixão ao sentimento arrebatador, capaz de minar os fundamentos da nossa racionalidade. Todavia, a palavra em questão também está aliada a idéia de dor e sofrimento; isto fica mais claro quando compreendemos que esta, originou-se do termo grego pathos (παθος), em bom português, doença.
Existe alguém que vive a paixão em sua forma mais plena: Ama o alvo do seu amor de forma demasiada e por ele foi capaz de sofrer as piores dores…. Este alguém é Deus!
Para muitos artistas, a paixão é o fole que atiça a chama da criação, e creio que o Senhor a vê de modo semelhante, pois a pedra fundamental do universo foi lançada no momento em que Ele se apaixonou! Tenho por certo que bem antes de haver criação, houve paixão (em todos os seus sentidos)!
“De outra maneira, necessário lhe fora padecer muitas vezes desde a fundação do mundo. Mas agora na consumação dos séculos uma vez se manifestou, para aniquilar o pecado pelo sacrifício de si mesmo.” (Hebreus 9:26)
Desta forma, em um tempo que existiu antes de existir o tempo, o Todo Poderoso, imbuído da mais obstinada das paixões, erigiu a cruz eterna, onde o Cordeiro, Seu Filho Unigênito, foi oferecido em holocausto, por amor da humanidade.
Logo, devemos compreender que, assim como qualquer atitude apaixonada, a crucificação de Cristo, não pode ser explicada pela razão…
“Mas nós pregamos a Cristo crucificado, que é escândalo para os judeus, e loucura para os gregos.” (1 Coríntios 1:23)
nEle, que nos ama de forma desmedida!

quarta-feira, 3 de novembro de 2010

ACIMA DA BURRICE!


Lembra quando mandavam aqueles emails com Power Points falando de Deus, e no fundo tinha sempre a foto cliché, do céu, do pôr do sol, da cachoeira? Bom, mas e quando a sua cachoeira seca, o seu céu vira um tempo feio e você encontra um buraco no chão? Não é para isso que existe aquela mensagem com aquelas letrinhas bregas? A vida não pode ser aquela perfeição quase cafona, certo?
Há milhares de anos, houve um dia numa cidade. Chamava Betânia, tinha pessoas como eu e como você. Gente do bem e do mal. Gente empolgada por nada e gente necessitada, gente que esperava. Então anunciaram que Deus entraria lá. Aquele mesmo Deus que havia ressucitado um morto chamado Lázaro. O mesmo Deus que havia feito coisas lindas. Ele chamava Jesus, e seu nome estava se espalhando por lá, como eu e você vemos hoje em dia nos adesivos dos carros, nas reportagens, entre os evangélicos que o Serra e a Dilma querem conquistar.
Enfim, pense nessa cena: ele ia entrar na cidade e os olhos de todo mundo estavam congelados no caminho por onde ele entraria. Pessoas na expectativa, pessoas que não trabalharam aquele dia só para vivenciar o momento em que o tal, o próprio Jesus Cristo, em carne e osso, entraria naquele lugar. E de repente, como mais um dos mais mortais dos humanos, ele entra montado num jumento. Não, não. Num “jumentinho”. A trilha sonora quase parou. Se fosse na sua cidade, você comentaria com a pessoa ao seu lado, certo? Se fosse na sua vida, você se decepcionaria, certo? Se fosse filme, os patrocinadores não comprariam, certo?
Mas a parte linda da história é que em Betânia o Rei entrou montado num burro e a alegria das pessoas não foi roubada e nem a espera foi frustrada. A imagem divina mais humana que poderia existir estava na frente dos olhos daquela gente e eles gritavam com uma certeza descomunal: “hosana nas alturas!” Você leu direito? “Nas alturas!” Mas como ‘nas alturas’ se ele estava a apenas alguns centímetros do chão, em cima daquele animal que não comunicava absolutamente nada e que era quase uma afronta ao cara que deixou de trabalhar só pra ver o Rei passar?
Quantas vezes você já achou as coisas de Deus um desaforo à sua cidade particular?
Quantas vezes você parou de esperar alguma coisa de Deus, porque certa vez ele não chegou em você do jeito que você queria?
Quantas vezes você olhou para o céu esperando um Deus que explodisse em 500 mil cores diferentes, e ele apareceu silenciosamente montado num burrinho marrom, cor de burro quando foge?
Quantos Power Points você já recebeu e achou que Deus era aquela mensagem chata e brega?
Eu vou dizer: brega e chato são os power points, a religião que quer etiquetar um Deus livre, dizendo como ele deve ou não deve se aproximar de você. Baixas são as definições óbvias sobre Deus. Quem quiser viver nas alturas precisa estar aqui embaixo e ver o que está acontecendo na cidade. Acompanhe:
Jesus já tinha ido à Betânia quando ressucitou Lázaro. E você deve saber como é: lembra quando Jesus entrou na sua cidade e te chamou pra fora do túmulo do quarto, da nóia, do relacionamento errado, do medo, da vidinha de dor, da carência, da falta de direção, dos erros mais imbecis que você cometia, e então todo mundo se espantou com esse milagre inédito? Pois é. Você foi marcado pela visita. Mas e se agora ele resolvesse voltar por outros caminhos? Dessa vez o caminho por onde as pessoas andam e os problemas corriqueiros transitam. Dessa vez, na sua rotina, dessa vez por um caminho que você não imagina, por meios que você não escolheria jamais. Qual seria a sua reação?
Que hoje os seus olhos estejam congelados no caminho por onde ele pode chegar, ainda que seja um caminho simples, de erros banais e atitudes terrenas. Talvez, dessa vez, você não precise sair do túmulo. Basta sair de casa para ver o Rei passar na sua rua. Um caminho aparentemente mais simples, mas por isso mesmo, muito mais sutil. E que você tenha garganta o bastante para gritar sem medo que ele é Rei o suficiente para se misturar com o que é humano porque é aí sim que ele está nas alturas. Que quando você está esperando por ele sem formatos ou idéias pré-estabelecidas, aí sim ele está nas alturas. Que ele em cima do jumento é na verdade, ele acima de todas essas burrices. E que você enxergue de longe e reconheça que Deus não é um Power Point cliché, mas é um mover que acontece e anda independente da estrutura. Ele é a visita bem vinda para aqueles que enxergam mais alto. Que essa seja a sua história, e que você sempre more nessa cidade.

segunda-feira, 1 de novembro de 2010

O que deu a Madalena?


Madalena dava pra todo mundo. Deu pro namoradinho, depois deu pro primo dele na festinha de natal. Madalena deu pro amigo do amigo, e viu que continuar aquele namoro não seria tão correto ou tão legal. Então ela disse adeus ao namoradinho, ao priminho ao amigo do amigo. Quando ela viu que estava livre deles, esqueceu do que se tratava a liberdade de verdade e viu que agora sim poderia dar pra quem quisesse. Deu até pra melhor amiga.
Balada, esquenta, carros, finais de semana na praia, dias de semana no cinema, banheiros, inferninhos, no sofá da sala. Madalena ficou até cansada. Madalena não tinha mais o que dar.
Um dia fizeram uma comunidade no orkut que se chamava “Pedra nela!”. Na descrição tava escrito: “Se você também é como nós, acha um absurdo a Madalena dar pra todos, ou se você conhece uma história zuada dessa mina, seja bem-vindo! Obs: se a Madalena já deu pra você, você também pode participar! Nós jogamos pedra, mesmo!”
A Madalena leu aquilo e tremeu por dentro. Mais do que tinha tremido na cama com qualquer um. E suou frio, mais do que havia transpirado em todos aqueles anos. Ninguém amava Madalena. Nem Madalena amava Madalena.
No meio dessa roda de acusações e pedras, apareceu um cara que não era da cidade. Talvez por isso ele não tinha pedras na mão nem queixas a fazer. Ou talvez, aquele cara fosse diferente dos outros. Fosse igual à ela. Não porque ele vivia num desequilíbrio total, mas porque ele também não aguentava mais ver as pessoas tomando decisões pelos outros. Ele achava chato ter que pensar na vida dos outros e condená-los. Ter que ter uma opinião sobre cada detalhe, sobre cada erro, sobre cada pessoa que errava. Ele sabia que se os pecados de cada pessoa fossem passados a limpo por elas mesmas, viver seria difícil demais, e seria uma chatice. Ele sabia que pensar no passado é pra quem depende dele, e que talvez essa não fosse a melhor opção para pessoas que buscassem mudar.
Talvez tenha sido por isso que as pessoas viraram pra ele e falaram “e então? tu não acha que a mina é a mais vaca de todas?” e ele sentiu um desânimo grande, que nem respondeu.
Fim das contas, você sabe como a história termina: ele disse “quem não tem pecado que atire a primeira pedra”, e ninguém foi capaz de atirá-las porque todos nós somos uns mentirosos, todos nós ladrões de alguma coisa ou até de nós mesmos. Todos nós somos orgulhosos e extremamente ganaciosos e queremos que o mundo gire ao redor da nossa idéia de mundo. Todos nós temos aquele erro que até hoje não esquecemos.
Por causa disso, a Madalena pode ir embora com a leveza de que todos somos pecadores, e por isso mesmo, todos somos livres para recomeçar.
Agora eu penso em mim, e em você. Talvez você não seja uma Madalena, talvez você não tenha dado até dizer chega. Mas quem sabe, você se deu pra coisas que afastaram você de você mesmo. Você se deu pra opiniões e deixou que elas ferissem você como pedras, como tiros, como morte.
Talvez você esteja numa maldita rodinha e já ache normal a sujeira que acompanha os seus passos, as pedras nas suas mãos. Talvez a sua vida seja mais dos outros do que sua, e talvez, você nunca tenha dado pra você mesmo. Uma chance, um recomeço, um esquecimento, um dia seguinte, um passo diferente, uma coragem de ser uma pessoa diferente, uma humildade de procurar na liberdade quem você realmente é.
Madalena foi embora e se a história não fala muito sobre ela, é porque ela descobriu coisas maiores do que as palavras.
Dizem que ela virou santa. Mas eu acho que não. A liberdade combina muito mais com os humanos e essa é a graça de ser imperfeito: sair de prisões a cada dia.
Madalena deu o coração.
*se você achou um absurdo o termo “dar” durante esse texto, não atire essas pedras. sejamos todos imperfeitos e felizes e unidos e mais livres do que as regras de linguagem. #repense.