sexta-feira, 22 de junho de 2012

E haja luz


“Fazer o bem não importa a quem”, foi a resposta que o Profeta Criolo respondeu no programa da Marilia Gabriela quando questionado sobre sua religião.


Uma vez ouvi que Deus não tem a ver com religião, mas com conexão. E é sobre isso que esse texto fala.


Você já se sentiu assim, conectado com alguma pessoa, algum movimento, algum ideial? Algo pelo que valesse a pena morrer, e mais ainda, algo pelo que valesse a pena viver? Para mim conexão é uma outra palavra para “e os seus olhos foram abertos”.


No Evangelho de Lucas o autor escreve sobre um dia típico onde Jesus estava sendo Jesus pelas ruas de Jericó quando se encontrou com dois cegos pelo caminho que gritavam na tentativa de fazerem com que suas vozes se sobressaíssem em meio a multidão que cercava o Nazareno. De frente para eles Jesus faz aquela que por muito tempo me pareceu a pergunta mais estúpida feita por Jesus: “O que vocês querem que Eu faça?” Como cego eu diria: “VEJA bem, Jesus, nós somos cegos… Que tal nos dar uma audição melhor?” Não me fazia muito sentido uma pergunta daquelas. É igual a perguntar para um aleijado qual o seu maior desejo… “Estava pensando sobre isso e cheguei a conclusão de que um par de moletas da Nike me cairiam muito bem agora”. E essa pergunta feita por Jesus ficou comigo por muito tempo, e eu na minha ignorância zombava dela.


De alguma maneira Jesus sabia que eles precisavam de algo mais além de enxegar as cores e uma postagem confusa como eu e você vemos. Por algum motivo Jesus olhava para um paralítico e via que o que este mais precisava era ter o perdão dos seus pecados do que a cura do seu corpo. Não que o corpo não seja importante pra Ele, ele é, tanto que o mesmo saiu carregando a cama onde outrora havia sido carregado. Mas é certo que Jesus tem pensamentos e caminhos maiores que os nossos.


A pergunta feita é a seguinte: “O que você quer que Eu te faça?” Senhor, nós queremos ver. E foi isso que aconteceu.


Acredito que todo milagre é feito para gerar um outro milagre. Os olhos deles foram abertos não só para que eles pudessem vislumbrar as paisagens da Palestina, mas também para que eles pudessem servir de testemunha de que o Reino estava ali. Está aqui.


Me vem a mente algumas pessoas que tiveram seus olhos abertos e não se contentaram em apenas ver a realidade que os cercava, mas lutaram para alterá-la, algumas dando suas próprias vidas pela causa em que acreditavam.


Liev Tolstói é um desses caras que teve seus olhos abertos, fato que o levou a escrever “O Reino de Deus está em vós”, livro que trata sobre o Reino ser estabelecido aqui na terra através das nossas ações diárias e sobre a luta contra a violência e a corrupção. Esse livro teve grande impacto sobre a vida do advogado indiano Mahatma Gandhi que teve seus olhos abertos após sua leitura e o fez dar sua vida pela luta contra o sistema de castas que imperava sobre a India, um sistema que privilegiava uma menoria e desgraçava toda uma nação. (Será que vemos algo assim pelo nosso país hoje em dia?) Martin Luther Kink Jr. e Nelson Mandela também tiveram seus olhos abertos pelos ideais do Gandhi. E a lista não para por ai. Rosa Parkes, Agnes Gonxha Bojaxhiu, Patch Adams, Bono, Brennan Manning, Rob Bell, Matt Chandler, Luciana Elaiuy, Maelyson Rolim, Ruben da Silva e outros tantos nomes que trazem suas histórias desconhecidas pela maioria das pessoas. Essas pessoas tiveram seus olhos abertos e com isso obtiveram a consciência de que as realidades que viviam e que vivem podem sim ser alteradas.


Quando a vista é dada a um cego esperasse que ele leve sua vida para mostrar ao mundo que há beleza em meio ao caos, que flores podem nascer no meio do asfalto, que a dor tem mais a ver com o amor do que com qualquer outra coisa. O médico e revolucionario Patch Adams fala que nos Estados Unidos apenas 10% da populção gasta tempo para pensar e que é o dever destes levaram os outros 90% preguiçosos à consicência. (Quantos por centos você acha que chega uma nação que está mais interessada no caso da Xuxa do que no Cachoeira?)


Você entende que isso é muito mais do que ficar reclamando da política, da qualidade do sistema público de saúde ou da educação do nosso país? Entende que isso é maior do que reclamar do metrô lotado de cada dia? Ouvi de um sábio “Não grite, melhore seus argumentos”. Eu acho que tem muita gente gritando por ai, mas deixando a desejar no que diz respeito a defesa do que acreditam. Você já parou para pensar que, por exemplo, o dinheiro que está sendo investido na Copa do Mundo de 2014 são recursos que saem do seu e do meu bolso e deveriam ir para educação, saúde, transportes? Morando hoje em São Paulo e todos os dias tendo que pegar hora um trem hora um metrô muito (MUITO) lotado para chegar no trabalho eu vejo que aqueles oito vagões são insuficientes. Por que não 12 vagões? Por que não 18? É possível aumentar o número de vagões e o tamanho das estações. Há recursos para isso! Há uma maneira de fazer com que a Marginal Pinheiros deixe de feder a merda por conta daquilo que um dia foi um rio e que hoje é um grande canal, assim como foi feito anos atrás no Rio Tamisa, em Londres. Aposto que os quatro vagões do metrô de Recife também deixam os que necessitam a desejar. Só falta vontade. Falta movimento.


E você não precisa ser presidente ou presidenta para mudar alguma coisa. Você pode começar no caminho de casa para o trabalho e/ou faculdade/escola dando um bom dia, boa tarde e boa noite realmente desejando que a outra pessoa tenha um bom dia, uma boa tarde e uma boa noite. Você pode perguntar como uma pessoa está realmente desejando saber como ela está. Você pode sorrir mais. Eu digo sorrir, não mostrar os dentes como um cão raivoso. Ser mais cordial com as pessoas é sempre uma boa pedida. Gentliza gera gentileza, como está escrito em algumas camisas por ai. Seria bom que essas palavras fossem escritas em alguns corações também.


Eu desejo que você e eu tenhamos nossos olhos abertos a cada manhã e independente do transporte que vamos pegar para sair de casa que a gente possa trazer o Reino para as pessoas, portadoras do Reino, incluindo para as pessoas dentro da nossa própria casa (porque as vezes é mais fácil ter amigos e amigas na rua do que em casa). As vezes o Reino chega através de um sorriso. As vezes o Reino surge no meio de um abraço. E todas as vezes o Reino se faz presente quando alguém que era cego começa a enxergar a luz.


Deus está.

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