quinta-feira, 29 de julho de 2010

Pai Nosso no Inferno - Igreja dos Loucos

A criança no canto da sala

Em tempos como estes, nos quais o que mais importa na maioria das vezes é o que eu tenho nos bolsos para oferecer, ou o quão alto eu consigo gritar durante o culto, encontrar pessoas que se disponibilizem a dedicar suas vidas ao serviço cristão e amor ao próximo sem reservas, sem apetrechos e maluquices que criamos (e chamamos de teologia, às vezes) é um verdadeiro alívio. Uma luz no fim do túnel.

No entanto, estamos tão acostumados a aplaudir os que possuem mais fama e que adquiriram alguma notoriedade, que acabamos nos esquecendo daquele velhinho que sentou-se ao nosso lado no último culto. Isso, aquele mesmo. O senhor de cabelos brancos que, muito provavelmente, tem muitos testemunhos de vitórias, derrotas, penúrias e glórias para ensinar uma multidão de jovens bobos de ambições patéticas. Estamos tão calejados de aplaudir o óbvio, que não notamos o humilde irmão que nos recebe na porta do templo, com um sorriso enorme no rosto, e com uma alegria incomensurável e belíssima!

Somos meninos mimados fingindo maturidade o tempo todo. Este texto não é nada mais que um grande rabisco, feito pelas mãos de uma criança teimosa que insiste em querer ser grande. Os olhos que percorrem estas linhas são olhos pueris disfarlados de "leitura séria".

A questão é: pra que esta fantasia de "gente grande", quando o Caminho a ser percorrido é estreito exatamente ao ponto de caber nossa inocência? Se um certo poeta cantou que preferia "a pureza das respostas das crianças", e se o Maior-de-Todos-os-Poetas, diz que é delas o Reino dos Céus, por que insistimos em vestir a fantasia de adultos, santos, imaculados, perfeitos? Por que teimamos em mascarar nossas incertezas e encobrir nossas neuras?

É exatamente como já afirmei, e aqui repito: somos crianças mimadas, encolhidas e chorando baixinho atrás do muro de falsidade que nós mesmos edificamos. Fizemos o mundo inteiro olhar para este muro e tratamos de esconder nossas dúvidas, medos e questionamentos mais obscuros.

O que acabamos sempre nos esquecendo, no entanto, é que Deus nunca olhou para outro lugar, senão para a nossa criança acuada no canto da sala escura dos nossos corações maquiados.